quinta-feira, 22 de outubro de 2009

RÉQUIEM

quinta-feira, 22 de outubro de 2009
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E meu poema tornou-se sangue
Tornou-se vinho, fel, paixão...
Foi água presa, aurora e mangue,
Mas não nasceu da inspiração.
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E o meu poema teve as dores
De um texto pobre declamado,
Teve desilusões e teve amores,
Porém não fora inspirado.
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E o meu poema teve alegrias,
Foi tão pequeno e infinito
Com pretensões tolas, tardias,
E só morreu por ser escrito.
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O.T.Velho

TREJEITOS E GESTOS

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E o meu poema fez-se velho
Surgiu, um dia, amarrotado
Me fez lembrar um evangelho
Que tinha algo anotado.
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E o meu poema fez-se carne
De condição inconsistente
Já não podia mais deixar-me
Era meu corpo ali presente.
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E o meu poema fez-se tudo
Numa sequencia interminável
Parou um dia, fez-se mudo
E assim tornou-se inacabável.
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O.T.Velho

sexta-feira, 31 de julho de 2009

MINHAS PRECATÓRIAS

sexta-feira, 31 de julho de 2009
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Eu não sou o que pareço,
Sou o lugar onde me ponho
Mas eu dele só conheço
Que faz parte de um sonho.

A outra parte em mim é algo
Que suporta minha crença
Tem trejeitos de um fidalgo
Nada diz, não dorme ou pensa.
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Uma tem em seus enganos
Os que a outra cometeu
Pois fizeram os mesmos planos
Pra não serem como eu.
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O.T.Velho

quinta-feira, 30 de julho de 2009

OLHOS DA COR DO MAR

quinta-feira, 30 de julho de 2009
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Não tira teus olhos dos meus
Pois desta mescla esparsa
Resulta em ver-me nos teus
O que nos meus se disfarça.
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Pois um olhar tanto exclama
E quando fala de si
É como o brilho ou a chama
Do meu olhar visto em ti.
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É assim que os olhos se vêem
Numa intenção de dizer
Que toda a visão que contém
Vem de um outro os ver.
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O.T.Velho

segunda-feira, 27 de julho de 2009

REENTRÂNCIAS

segunda-feira, 27 de julho de 2009
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A vida por meus olhos passa
Sem que eu perceba exatamente;
Sou a vidraça que se embaça
E a nada vê tão claramente.
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E ainda assim não sei notá-la
Ou distinguir a intenção
Da mesma imagem que se cala
Quando me escapa da visão.
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Somente sei reconhecê-la
Até onde posso arguir;
Se o céu existe numa estrela
Eu fiz-me dela ao existir.
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O.T.Velho

sábado, 25 de julho de 2009

NA ESTRADA PRA CURIAPEBA

sábado, 25 de julho de 2009
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O pneu velho na estrada
que sabe ele de ser?
Não teve a vida começada,
E bem pouco a pode ter.
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Nada foi do que não acha,
Se perdeu no segmento,
Com seu corpo de borracha
Na estrada em movimento.
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Se mais nada lhe ocorreu,
Não importa ter morrido,
Foi somente um pneu,
No bem pouco a ser sabido.
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O.T.Velho

quinta-feira, 23 de julho de 2009

BERGANTIM DE PORCELANA E COBRE

quinta-feira, 23 de julho de 2009
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O amargo doce de um beijo
Tem um aroma de flor,
Brotada em cada desejo,
Cuja beleza é não supor.
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Tudo é segredo... uma ave,
No improviso de um passo,
Dança um ballet, tão suave,
No palco imenso do espaço.
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A mão que acena num verso,
Onde não há o que dizer,
Faz doce amargo o universo
Pra cada beijo nascer.
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O.T.Velho

quarta-feira, 22 de julho de 2009

AS TARDES DA RUA XV

quarta-feira, 22 de julho de 2009
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Eu não conheço um dia calmo,
Tudo que sei ou que conheço,
Fica à distância de um palmo
Da simetria que obedeço.
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Também não tenho a inspiração
Que justifique o mero ato
De me enredar na produção
Deste rabisco ou relato.
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Pois nada penso que entabule,
Na idéia tola e associada,
Algum escrito que se anule
Na dissertação mal começada.
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O.T.Velho

BIOMBOS E MARIONETES

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O tempo é o eterno paralelo
Na hora perdida que se trunca,
E é cada orifício deste elo
Que leva as horas para o nunca.
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Jamais devolve, não há volta,
É como a chuva de granizo
Que fere as tardes, se revolta
Só pra dizer que foi preciso.
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Então me ocorre o pensamento
Porque não para de chover?
Pois se o granizo fere o vento
O tempo agora é pra esquecer.
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O.T.Velho

sexta-feira, 17 de julho de 2009

COURAÇA DE PAPEL MOLHADO

sexta-feira, 17 de julho de 2009
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Deste meu tempo de cristais
Só perduraram os fragmentos,
E a sensação sem ideais
Em um convés de desalentos.
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Eu já fui de tudo, já fui porta,
Fui um rabisco numa brecha
Alguma ausência que conforta
A cada porta que se fecha.
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Já fui a estrada em rotatória
Para assistir então passar,
A estranha massa incorpórea,
Que a tudo fez fragmentar.
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O.T.Velho

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O AÇOUGUEIRO DA RUA XV

quinta-feira, 16 de julho de 2009
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Não me importa que me tomem,
Por um sujeito tão vulgar,
Igual ao pasto que os bois comem,
A cada vez que vão pastar.
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O que me importa é sim conter,
Este lugar que ninguém foi...
Ser mesmo pasto e então crescer,
Numa metade deste boi.
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E que assim me fique o inaudito,
D'alguma pobre e velha rês,
Com as diferenças que acredito,
Mas tão igual a mim, talvez.
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O.T.Velho

segunda-feira, 13 de julho de 2009

DESAFORISMO

segunda-feira, 13 de julho de 2009
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Toda canção é como a folha,
Um fragmento que se solta,
Caindo leve como bolha,
Por um instante e nunca volta.
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E uma canção quando ouvida.
Ou quando a gente dela sabe.
Cria uma imagem repetida,
E assim repete até que acabe.
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Eu já não sei como se canta
Pois todas formas de canção
Ficam em mim só na garganta
E, desse jeito, morrem então.
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O.T.Velho

A LOJA DE DOCES DA RUA XV

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É tudo um engano... Pisa leve
Pois toda coisa é dita assim
O mal de alguma é ser tão breve
Para em outra não ter fim.
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É um passo falso, certamente,
É chão aberto que se pisa
Nenhum engano dói na gente
Tampouco dói em quem precisa.
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Então assim, nesta cadência,
Somos forçados a errar,
Esta é, talvez, a maior ciência,
Pois o viver é se enganar.
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O.T.Velho

NO CALÇADÃO DA RUA XV

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Este meu jeito quase humano
Às vezes chega a convencer
Que o contracenso do engano
É tão somente parecer.
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Não que eu prometa, nem refaça,
Ou justifique a coisa dita
Mas por fingir a mesma graça
Quando alguém não acredita.
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Então sou sempre enganado
Por esta quase humanidade
Que sempre faz do gesto errado
Uma discreta piedade.
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O.T.Velho

A PONTE RECLINADA

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O espelho é um fragmento
Que fugiu à explicação
De meu torpe pensamento
Que não viu sua razão.
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O que mostra sua imagem
Não é o tanto que revela
Mas somente uma linguagem
Que no vidro se congela.
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E nas formas que ele insiste
De mostrar o que não vê,
Outra assim igual consiste
Nestes versos e quem os lê.
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O.T.Velho

LAS CALLES DE MONTEVIDEU

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...então segui pro rumo norte
E por estreitos que não vi
Que toda estrada leva à morte
E eu não sei porque segui.
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E neste estranho paradeiro
Cujo destino se nos furta
Não me refiz, segui inteiro
Tornando a vida tola e curta.
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São só presságios, o princípio
De uma idéia que não rima
Já não tolera o particípio,
E fica no verso onde termina.
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O.T.Velho

NO ESTREITO DA RUA XV

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Dá-me tua mão através do dia
O dia é somente uma passagem
Na rua estreita e não deveria
Reaparecer na outra margem.
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Dá-me as mãos invente alegria,
Pois todo o resto é só bobagem
E a rua morta, então vazia,
Ressurgirá com outra imagem.
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Dá-me as mãos, a aragem fria,
Já não parece ser aragem
Mas frios ventos, covardia
Dá-me as mãos e então coragem.
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O.T.Velho

ESTUDI DELLA RICORDANZA

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E toda recordação só é isso,
Uma fuga ou simplesmente,
Um ponto fraco, movediço,
Para alguém lembrar da gente
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Assim eu tento não lembrar-me,
Porque um outro esquecerá,
E tão facilmente me desarme,
E à outra coisa passará.
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Mas muito embora eu me afaste,
A recordação sempre me segue,
Por confiar que eu não a gaste,
E para sempre a carregue.
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O.T.Velho

CIRANDA EM XEQUE

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É só um tabuleiro de xadrez
O modo como eu me vejo
Pois cada peça perde a vez
Pra dar origem a um desejo.
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É só um jogo... é só um jogo
Que nunca é facil de parar
É a devoção de amor ao fogo
É a abstenção de não jogar.
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É uma ciranda que culmina
No ponto alto em que ficou
A descontinuidade que origina
A peça errada que jogou.
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O.T.Velho

ELUCUBRAÇÕES INSÓLITAS

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Releio, nas folhas do caderno,
Correspondências que mantive,
Nas incertezas do inverno,
Com os brancos lagos onde estive.
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Falo das noites, madrugadas
De algo em mim que emudeceu
Dessas notícias esperadas
Pelo que nunca aconteceu.
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Das brancas nuvens, o arrepio
Que nos provoca o temporal
Que basta ao inverno já ser frio
Nunca é preciso ser igual.
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Falo também do quão difícil
Torna-se ao homem entender
Que toda vida é como um vicio
E da qual é fácil se embeber.
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E falo também, a cada folha,
Do que não pude suportar
Pois toda vida é uma escolha
E só o caderno pode errar.
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O.T.Velho

À BEIRA DA ORLA

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Da noite me basta o lampejo,
A antevisão dos abrolhos,
Pra que eu sinta um despejo
Correr-me no rio dos olhos.
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Sargaços, mangues e lodos
Foram o que vi comumente,
Que acostumei-me com todos,
E já nem sou diferente.
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Se uma idéia sempre nos trai
Pode-se em outra rever,
Que o mais distante que vai
É à véspera de retroceder.
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O.T.Velho

NAS ESCADARIAS DE ANDALUZ

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A referência ao intangível
Que a minha mente reproduz
Só há de ser perceptível
Nas escadarias de andaluz.
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É como o sol dourado e fresco
Ou a agonia louca e cega
Que num arroubo quixotesco
Fere aquele que a carrega.
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E tudo segue uma tangência
Como um comboio que discorre
Pois atingiu esta freqüência
Da coisa viva que não morre.
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O.T.Velho

A RAIZ DO CUBO

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O tempo de tudo é tão lento
Só dura o tempo que faz
Um breve instante, um momento,
Do que ficou para trás.
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São voltas,vindas e idas
São fragmentos de cenas
Imberbes imagens surgidas
Por um minuto, apenas.
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Já não possuímos os sábios
E o que se ouve é a tolice
É o movimento em que os lábios
Repete o que nunca disse.
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O.T.Velho

domingo, 12 de julho de 2009

IMAGENS SAZIONAIS

domingo, 12 de julho de 2009
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Escute a voz na tempestade,
O temporal que não desaba,
É lá que existe a verdade;
A vida surge quando acaba.
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E neste eterno movimento
De tudo prestes a acabar-se
Há de surgir um pensamento:
Nada passou de um disfarce.
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Assim escute os temporais ,
Que o vento leve não empurra,
E faz de coisas tão banais,
Esta verdade que sussurra.
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O.T.Velho

DECLARAÇÃO DO ALVORECER

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O meu olhar roubado ao teu
não é somente um olhar
Mas um rubor que se escondeu
Entre a manhã, aurora e mar..
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Pois as manhãs derramam óleos
Sobre a varanda de tecidos
Da cor perdida de meus olhos
Em teus olhares escondidos.
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É natural que eu não te veja
Apenas sinta quando vens
Que és a manhã e o sol te beija
Não tenho nada e tu me tens.
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O.T.Velho

sexta-feira, 10 de julho de 2009

A HERANÇA DE PORFÍRIO ALCEBÍADES

sexta-feira, 10 de julho de 2009
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Não foram os dias de inverno
Que trouxeram tanto frio
Inventaram o dia eterno
Criaram sombras, encobriu-o.
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E não foi o frio rigoroso
Que apagou todo o calor
Deixou um gosto licoroso
E nossa sede sem sabor.
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Não foi nada, não foi nada
Que aumentou os dissabores
Foi somente a coisa errada
E o inverno deu-lhe as cores.
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O.T.Velho

quinta-feira, 9 de julho de 2009

UM DIA SEM GRAÇA

quinta-feira, 9 de julho de 2009
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Na calçada molhada se repete
A imagem fria que desloca
O som confuso dum trompete
Que a gente ouve e ninguém toca.
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Pois nenhum ouvido o irá notar
Ou distinguir como canção
O que sentiu de ouvir tocar
Ou se ele foi tocado ou não.
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Na calçada fria e tão molhada
Qualquer palavra tem o som
De uma cantiga não tocada
Ou que afinal perdeu o tom.
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O.T.Velho

QUADRO I

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I - FIAMBRES E LICORES
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Os meus dias são caminhos
São estradas sem lugar
São pequenos pedacinhos
Que haverei de remendar.
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E este tempo que eu terei,
Como sobra remendada,
Do que em mim fragmentei,
Pra seguir em outra estrada.
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Os meus dias são roteiros
De uma peça que ficou
No papel, entre os tinteiros,
Deste livro que não sou.
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II - DESDE MUITO
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As horas não passam, parece
Que o tempo se emudeceu
Já quase nada acontece
Só coisa alguma e eu.
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E eu, como sempre, perdido
Revejo igual semelhança
Num tempo em mim esquecido
Guardado só na lembrança.
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E nos refrões da cantiga
Tudo que busco é entender
Mas temo que não consiga
Porque há muito a esquecer.
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III - AMOR, ESTRANHO MODO
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É luz, é fogo o que eu sinto,
Uma canção, um trocadilho,
Um sentimento indistinto
Fração de luz, quase sem brilho.
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É redenção, é dor, paixão
Uma agonia que devora,
Corrói o peito, o coração,
Fica pra sempre e nem demora.
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É uma paz que se consome
Na alegria de ser triste,
Pela razão que não tem nome
E apenas sei porque existe.
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F.T.Oliveira

terça-feira, 7 de julho de 2009

NÃO FOI NADA...

terça-feira, 7 de julho de 2009
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Foi só meu sonho acordado
Que pela noite perdida
Tentava ser relembrado
De acordar-me em seguida.
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Foi só o meu rumo diverso
De um conteúdo qualquer
Que fez meu sonho disperso
Seguir em rumo qualquer.
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Foi só um pouco ou o nada
Do que eu vá presumir
E que fez a noite acordada
Não mais deixar-me dormir.
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O.T.Velho

sexta-feira, 3 de julho de 2009

UM GRITO NA JANELA

sexta-feira, 3 de julho de 2009
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...a minha poesia já não grita
Nem tem a voz que dilacera
Ela é como as aves e se agita
No breve tempo de uma espera.
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É como o vento, frio e leve,
É como a neblina que percorre
Na palidez de um texto breve
A sincronia do que morre.
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E é como a dor que se desata
Numa verdade presumida
Porque não dói e sim retrata
A não existência da ferida.
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O.T.Velho

quinta-feira, 2 de julho de 2009

CARVOARIA

quinta-feira, 2 de julho de 2009
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...e remarei contra marés,
Irei seguir pra além do mar,
Nos arredores sem convés
Numa distância sem lugar.
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Eu vou seguir até que aviste
O outro lado do horizonte
Porque no mar somente existe
A travessia e uma ponte.
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E vou remar no rumo gasto
Nas últimas paginas da história
Deste poema que arrasto
Pra o infinito da memória.
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O.T.Velho

quinta-feira, 25 de junho de 2009

DE UM JEITO UE NINGUÉM PERCEBA

quinta-feira, 25 de junho de 2009
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Hoje sou como um retrato
que o tempo dependura,
E que só foi dependurado,
Pra encobrir a rachadura.
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E na parede onde se acha,
Já tornado parte dela,
Não percebe que se racha
De um jeito igual a ela.
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Assim sinto que eu sou,
Como ele e estaria
Na parede que o rachou
E eu também não saberia.
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O.T.Velho

quarta-feira, 24 de junho de 2009

SUBÚRBIOS DO SILÊNCIO

quarta-feira, 24 de junho de 2009
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A tempestade que se aquieta
Já não é mais tempestade
Porque fez-se mais discreta
Que respingos na umidade.
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E na imagem cinza e turva
Que se cola na vidraça
Só se vê a estrada curva
E alguém que nela passa.
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E aos poucos, sem que eu olhe,
Fica o dia terminado,
E a impressão de que ela molhe,
Só o que vi ficar molhado.
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O.T.Velho

segunda-feira, 22 de junho de 2009

NO EPITÁFIO DOS TORQUATO VELHO

segunda-feira, 22 de junho de 2009
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Há na tristeza imaginária
Que ora existe, ora não,
Uma sombra solitária,
A qual chamamos solidão.
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Ela ressurge da leveza,
De um momento que a gente,
Se entregou à incerteza,
E o fez completamente.
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E é assim, na manhã rubra,
Que o perdido é encontrado
Numa sombra e se descubra
Como morto no passado.
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O.T.Velho

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A MAÇANETA DE BRONZE

sexta-feira, 19 de junho de 2009
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Tão longe, além da distancia
Esquecida nalgum lugar
Foi lá que deixei a importância
De me perder ou chegar.
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Tornei-me fechado, um cerco,
Como farol numa ilha
Como a flor morta no esterno
Deste farol que não brilha.
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E assim em tudo que eu sinto
Existe somente o espaço
De onde se ergueu o labirinto
Das ruas por onde passo.
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O.T.Velho

quarta-feira, 17 de junho de 2009

OS AVENTAIS MOLHADOS

quarta-feira, 17 de junho de 2009
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antes que o dia se apague
eu terei que me lembrar
De um algo que me trague
Qualquer coisa a recordar.
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Eue não me seja tão bizarro
Quanta à mesma opinião
Que mantenho quando narro
O não haver recordação.
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E que não torne este tropeço
Um constante nevoeiro
Pra não ser como me esqueço,
Nem completo, nem inteiro.
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O.T.Velho

FRAGMENTOS DE UM DIA CHUVOSO

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A minha canção se faz poema,
Ondas e versos sobre o mar
Nas poucas frases de um tema
Só pra ouvir e não cantar.
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Porque eu sei, na escuridão,
Não se permite alguém expor
Algo que lembre uma canção
Que tenha vida, brilho e cor.
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Assim o vejo pois, decerto,
Longe da luz, longe do dia,
Todo poema é encoberto
Por qualquer voz que silencia.
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O.T.Velho

PROSCRIÇÃO

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...então fugi sem levar nada
Pois pouco tinha que pegar;
Um travesseiro, uma almofada
E uma foto antiga do Lugar.
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Não é comum que a gente saia
Sem ter um nada pra esquecer;
Algum xaxim sem samambaia
Ou qualquer coisa pra comer
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Mas foi assim que eu sai,
Deixando o nada que eu tinha;
As madrugadas que não vi
E a eterna noite que era minha.
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O.T.Velho

segunda-feira, 15 de junho de 2009

OSTRACISMO INCONDICIONAL

segunda-feira, 15 de junho de 2009
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Por lugares que não sei
Eu me perco, me desmembro,
Pinto formas que criei
Sobre imagens que não lembro.
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E como tantos, desmembrado,
Sinto eu que nada passa,
De um lugar, onde pintado
Vi meu rosto fingir graça.
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Uma graça sem leveza
Que conserva e ainda acende
O pavio da tristeza
Neste fogo que me prende.
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O.T.Velho

AS PROBABILIDADES DO ZERO

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A saudade, não vou senti-la
Nem levo jeito pra isso
Pois ela é gota de argila
Em pingo mais quebradiço.
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A noite sim é infinita
E nem termina quando acaba
É agonia que não grita
E é chuva que não desaba.
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E na solidão que atravessa
As horas sem ter licença
Ela é o todo que expressa
Aquilo que a gente pensa.
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O.T.Velho

domingo, 14 de junho de 2009

ADOLESCÊNCIA

domingo, 14 de junho de 2009
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Nunca contes pra ninguém
O segredo que eu lhe disse
Pois eu sei, se ouvi-lo alguém
Pensará que foi tolice.
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Foi tolice que eu pudesse
Casualmente segredar
Esta coisa que se esquece
Se o outro não falar.
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E se um dia, entretanto,
Te lembrares que ouviu
Esquecerás eu te garanto
Do segredo que existiu.
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O.T.Velho

sábado, 13 de junho de 2009

A QUEM POSSA INTERESSAR

sábado, 13 de junho de 2009
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Cada dia é um subsequente
Ao resto amargo do ontem
É só um fragmento presente
A detalhes que outros contem.
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E embora eles doam na gente
É tão difíl não pensar
Que ainda há os que comentem
Só para gente se lembrar.
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Assim nos dói a lembrança
Não da coisa relembrada
Mas do vulto que ela alcança
Por ter sido comentada.
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O.T.Velho

sexta-feira, 12 de junho de 2009

MEA CULPA

sexta-feira, 12 de junho de 2009
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Na minha alma se escreveu,
De uma forma justa e breve,
A estranha pagina que sou eu:
A mão ferida que a escreve.
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E nos momentos de abandono,
Relendo em mim o que escrevi,
Em tudo vejo só um dono
Que são as verdades que omiti.
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E agora sim talvez eu deva
Pedir aquele que for ler;
Jamais questione ao que escreva,
Busca somente se entreter.
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O.T.Velho

quarta-feira, 10 de junho de 2009

CANÇONETA PORTUGUESA

quarta-feira, 10 de junho de 2009
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A água escorrendo no beiral
Faz o meu dia ser tão triste
Porque eu sinto outra igual
Neste beiral que em mim existe.
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Tento buscar uma maneira
Pra esquecer-me deste assunto
Pois quando a água cai na beira
Sinto eu mesmo cair junto.
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Se pouca gente entenderia
Vejo que tudo me esqueceu
Só me restou a poesia
E no beiral, a água e eu.
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O.T.Velho

SOMBRAS E CISCUNSPECTOS

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E finalmente anoiteceu
Assim o sei porque parece
Que noite igual a tenho eu
Por isso sei quando anoitece.
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O amanhã talvez me venha
E de um modo diferente
Traga-me algo que não tenha
Esta apatia tão frequente.
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Mas por agora o tempo urge
O carrocel não vai parar
Na noite magra que ressurge
E onde o sol não vai raiar.
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O.T.Velho

O CAIS DE BEIRA-RIO

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À calma do mar me assusto,
Vejo naves encalhadas,
Que navegam a todo custo,
Como, não sei, assustadas.
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Esta atmosfera me afeta
De um modo comparável
Ao vazio que a projeta
E que a faz interminável.
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Pois o cais de beira-rio
Se escondeu no nevoeiro
E pra buscar cada navio
Foi perder-se por inteiro.
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O.T.Velho

terça-feira, 9 de junho de 2009

O CHARCO DA CASA VELHA

terça-feira, 9 de junho de 2009
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É esta estranha repetição
que me faz reformular
Nas palavras que dirão
Quando alguém as perguntar.
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O que sou e o que pareço?
O que fiz do meu espaço?
E porque nunca me esqueço,
De ser tudo que não faço?
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Tantas peguntas devem ter
As respostas que objetem,
O que não posso é entender
Porque tanto se repetem.
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O.T.Velho

À LUZ DO CANDEEIRO

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A noite é repleta de imagens soltas
E lembram algo que não existiu;
Vultos escondidos e marés revoltas,
Silêncios, vozes que minguem ouviu.
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O vento da noite a pele me toca,
E eu sinto algo que não sei definir,
É como um vazio que em mim coloca,
Uma espera longe de se concluir.
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E as imagens turvas parecem dizer,
Todo sentimento que em mim passasse,
Numa alegoria estranha de se antever
Na morte surgindo o dia que nasce.
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O.T.Velho

INFANTILIDADES SERTANEJAS

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Os pássaros
de minha aldeia
Tinham o canto suave
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Vigiavam as manhãs
e partiam sempre
aos primeiros
raios de sol
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Iam para o indeterminado
e insabido
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Penso hoje
que aqueles pássaros
eram minha infância
.
Hoje não mais os vejo
.
Não há mais canto suave
nem manhãs
nem raios de sol
.
Hoje a noite é eterna
.
O.T.Velho

segunda-feira, 8 de junho de 2009

NO RELÓGIO QUE ME OLHA

segunda-feira, 8 de junho de 2009
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...e leve o tempo que leve
Sem motivos ou porquê,
Jamais serei como se deve
E nem do modo que se cre.
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Encontrarei um mundo vasto,
Onde um nada foi plantado,
E lá serei o tempo gasto
Pra me achar e ser achado.
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E um dia todos os ventos
Varrerão este lugar,
E encontrarão meus pensamentos
...leve o tempo que levar.
.
O.T.Velho

TANGIDOS DA MANHÃ

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vou mudar-me pr'uma casa
Onde nada seja assim
Onde a vida se estravasa;
Eu vou mudar-me para mim!
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Eu não sei se isto existe
Ou se fora inventado
Pra que nada seja triste
Quando eu tenha mudado.
.
Mudarei em meio ao sono
Pois a noite não termina
Uma noite não tem dono
Falta sol em toda esquina.
.
O.T.Velho

AVISO AOS NAVEGANTES

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É só uma frase, um escrito
D conteúdo disperso
De um algo que acredito
E que pensei ser um verso.
.
E não fora eu a compô-la
Porque somente confronta
A uma idéia tão tola
Com a estrutura já pronta.
.
É feito um desenho borrado
Que não parece pintura
Pois nunca foi terminado
Por isso sei que não dura.
.
O.T.Velho

A VIGA DO ESTRADEIRO

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Um barco à vela la vai
Pelo tapete que é o mar,
Como alquém que se distrai
E não lembra de voltar.
.
As velas rubras ao sol
O vento que tange perto,
As águas como um lençol
Sob um corpo descoberto.
.
Um barco à vela e só
um barco à vela mais nada,
Num palanquim de cipó
Sobre a areia salgada.
.
O.T.Velho

ITAOCA DE IMBIRA

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sorve o silencio, degusta
o resto parvo da dor,
Pois afinal não te custa
Fingir aquilo que for.
.
Sinta este nada observe-o
Pois ele mesmo levou-te
a rasgar a pele indelevel
Dos finos traços da noite.
.
sinta o suor, o batuque,
e a agonia fremir,
para que nada machuque
o sono que não quer vir.
.
O.T.Velho

RECOMEÇO SIMBIÓTICO

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Refaço em vão minhas pegadas
Porque não sei onde falhei,
pois foram tantas caminhadas
Que me perdi e nada achei.
.
Se noutro tempo eu saberia
Hoje somente o ignoro,
Cada pegada é como um dia
E sangra a vida em cada poro.
.
E a inconstancia do refeito
(Onde eu sempre me atrapalho)
Me leva a agir sempre direito
E ser em tudo apenas falho.
.
O.T.Velho

LAMENTAÇÃO LENTA

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Ja me cansei de tanta estrada,
Do rumo incerto que ecoa
Em meus caminhos de alvorada,
E de andar tão sempre a toa.
.
Da estiagem que arrefece
os campos verdes de outrora,
E a mão suada que aparece
Nesta vontade de ir embora.
.
Já me cansei, estou cansado,
tão exaurido de não ver
No meu poema terminado,
O que não pude descrever.
.
O.T.Velho

ALGUNS TROCADOS

.
Eu sempre finjo que esotu bem
Mas estar bem jamais será
A concepção que tem alguém
De tudo quanto em outro há.
.
E eu sempre finjo não protesto
jamais me posto veemente
Tudo afinal é como um gesto
Uma mentira que há na gente.
.
Mas não importa eu sempre finjo
Até por coisas que não sei
Na pressuposição de que atinjo
Aquilo que não fingirei.
.
O.T.Velho

INSPIRAÇÃO PROSAICA

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Olho de volta em torno
Do dia que me revela,
Um sol pequeno e morno
Em meio à tarde amarela.
.
Como um suposto sinal,
Algo perdido no olhar,
Pois só se vê afinal
O nada além de imaginar.
.
Olho em torno de volta,
E tudo cai num contexto
Onde a ideia se solta
Pra que eu termine o texto."
.
O.T.Velho

sábado, 6 de junho de 2009

AS CISMAS DE UM BUROCRATA

sábado, 6 de junho de 2009
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Sou como a ordem de serviço
Que nunca fora expedida;
Então por isso, e só por isso,
Ela não será restituida
.
E seus valores não expressos,
E a escassez percentual,
Lembram mesmo meus excessos
Ou se comportam como tal
.
E neste fiel descumprimento
De fatura não lançada,
Só existe o movimento
De coisa alguma para nada.
.
O.T.Velho

sexta-feira, 5 de junho de 2009

PÉS DESCALÇOS SOBRE AREIA

sexta-feira, 5 de junho de 2009
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Colo meu rosto sobre o mar,
Nas frias tardes de outono,
Na intenção de perguntar
Porque sinto este abandono.
.
Mas não busco só respostas,
Busco mesmo me entender,
Como as flores nas encostas
Que tão pouco podem ver.
.
Assim mergulho em cada onda,
Do profundo que há em mim,
Pra que o mar talvez responda
Porque mesmo sou assim.
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O.T.Velho

O ADEUS DOS IMPOSSÍVEIS

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Os pensamentos de cristais
Às vezes perdem-se no vento
Seguem pra onde não são mais
O que os fez ser pensamento.
.
E o vento os leva, rodopia,
Numa ciranda interminável
Feita de cor e poesia,
De um sentimento imutável.
.
E na ignorada voz suprema,
Desta canção jamais igual,
Ouve-se, ao vento, um poema,
De um pensamento de cristal.
.
O.T.Velho

quinta-feira, 4 de junho de 2009

OS DIAS DE INVERNO

quinta-feira, 4 de junho de 2009
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Vou recomeçar a minha vida
Por um momento inexato
Duma memória esquecida;
Por um bilhete e um sapato.
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Saber de nada me estranha,
É como alguém sem endereço;
Neve descalça na montanha
E um bilhete sem começo.
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Saber de tudo, no entanto,
É bem maior que estranheza;
Sapato velho em um canto,
Nenhum bilhete sobre mesa.
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O.T.Velho

NA FALTA DO QUE DIZER

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Que direi dos sonhos que tive
E de tantos quanto mantenho
Ou daquele que sobrevive
Ainda na forma de um desenho.
.
Que dizer do quanto sonhei
E sobre tudo que eu seria
E do quanto eu me replanejei
Pra realizar cada sonho um dia.
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Que dizer!... ora! O que dizer,
Se todo o sonho realizado,
Não é igual a se satisfazer
No que se houvera já imaginado.
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O.T.Velho

quarta-feira, 3 de junho de 2009

QUOTIDIANO

quarta-feira, 3 de junho de 2009
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As Minhas vestes, um dia,
Rasgaram como a manhã
Porque o sol não surgia
E toda coisa era vã.
.
As minhas vestes fiadas
Com pano branco de linho
Eram manhãs, alvoradas,
Feitas de sol e caminho.
.
Mas houve um dia então
Que se romperam as linhas
Pois se tornaram ilusão
Embora sei: eram minhas.
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O.T.Velho

AS REENTRÂNCIAS DA FACE

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Nenhum silêncio se basta
Nas horas do não dizer,
Pois o não dito se gasta,
Na busca de se manter
.
Assim as velhas respostas
Das coisas que procurei
Se interagem, opostas
A perguntas que já não sei.
.
Eu estive errado, confesso,
E o meu silêncio dirá
Numa palavra, inespresso
Porque ninguém ouvirá.
.
O.T.Velho

CEM DIAS DE INTERLÚDIO

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Ainda estou por descobrir
De que é feita minha sina;
Pouco sei do que é sorrir
E nada há que me defina.
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Um dia, sei, talvez mudado,
Irei sorrir do que ja fui
Então direi: Fiz tudo errado,
Sou quem nada mais possui.
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Ou não direi coisa alguma
Nada mais talvez me caiba.
Vai-se a vida como espuma
Sem que a gente nada saiba
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O.T.Velho

NO ANTEPOSTO DO REVERSO

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Sou o outro lado dá rua
Uma rua triste e vaga
Onde vive a imagem nua,
E o torpor que embriaga.
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Sou o esquecimento, a visão
A embriaguês que não resiste,
Vive a em mim a multidão
No silêncio de ser triste.
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Sem palavra ou trejeito,
Sou apenas o não sei quê
Que me fez um beco estreito,
Todos olham, nnguém vê.
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O.T.Velhoo

O CHALÈ DAS MONTANHAS

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Era a antiga casa se sapé,
Perdida num vilarejo,
Tão simples, sem chaminé,
E rica como um desejo.
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Fincada bem nas dividas
Onde o longe se encobre
Tinha as formas precisas
De ser feliz mesmo pobre.
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E no altiplano esfumacento
Onde não ver é ver bem
Eu a ouvia na voz do vento
E além de mim mais ninguém.
.
O.T.Velho

O AMETISTA DE MADALENA

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É somente uma vela com certeza,
Uma vela somente fria e vaga,
Não sei do motivo porque foi acesa
Compreendo apenas que enfim se apaga.
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É apenas uma vela sem pavio,
Um corpo morto que ninguém reclama,
Que perdeu as forças em um desafio,
Porque era vela e não quis ser chama.
.
É apenas isso, e pra nunca mais,
Repetirei o que é feito dela,
E se meus motivos são residuais
É porque sou chama, nunca serei vela.
.
O.T.Velho

ALIJAMENTO

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Sussurram na escuridão
Um atentado, um perjuro,
Uma qualquer confissão
Que só é feita no escuro.
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É a dor febril que desata
Essa agonia inexpressa,
Que no ouvir se dilata
E no calar se confessa.
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É feito uma sede voraz
De vitupério e mentira,
Que só o tempo desfaz
E outra coisa não tira.
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O.T.Velho

O PALHAÇO

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O palhaço enxuga o rosto
Num aceno zombeteiro,
Dissimulado, descomposto,
Zombando do picadeiro.
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Se contorce e dá um salto,
Amortece a cambalhota,
Projetando o sobressalto
Um tropeço e uma lorota.
.
Se aventura num sorriso,
Na cara suja de talco,
Amargurado e impreciso,
Na tristeza de um palco.
.
O.T.Velho

RUMOREJO

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O rio segue pelo leito,
Eu sigo o rio que há em mim,
Um que tornou-se tão estreito,
Por eu segui-lo mesmo assim.
.
O outro vem quando orvalha,
Nas rubras flores da manhã,
Num cheiro doce, na migalha,
De água corrente e hortelã.
.
Pois bem eu sei, um belo dia,
Irei parar e o rio morre,
E a água clara que eu seria,
Irá secar enquanto jorre.
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O.T.Velho

ESTIAGEM

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Em certas coisas esquecidas,
Perde o homem a identidade,
E embora sejam parecidas,
Uma é a vida, a outra saudade.

Assim nós somos uma fuga,
De uma razão que se perdeu,
E a recordação então enxuga,
Isto que a todos esqueceu.

Pois toda coisa não lembrada,
Respira fundo numa voz,
Que por não ser vociferada,
Será apenas isso em nós.

O.T.Velho

CONTRIÇÃO

.
Guarda-me como segredo,
Feito verso nunca lido...
O que é dito morre cedo,
Não me faça ser ouvido.

E as palavras que se vão,
Propensas ao movimento,
De outro modo existirão,
Na voz perdida do vento.

Assim de mim não propale,
Um algo sequer escrito,
Pois num segredo o que vale,
É a chance de não ser dito.

O.T.Velho

ROMPE RUMO

.
O trem apitando distante,
Em um lamento infinito,
É um chamado fumegante,
Entre os dentes do apito.
.
E eu que o ouço da cabine,
Em que viajo solitário,
Penso que nele se combine,
Eu e meu destinatário.
.
Rompe rumo, rompe rumo,
Assim ouço mas não sei,
Se de fato me acostumo,
A não saber pra onde irei.
.
O.T.Velho

RUBOR

.
O meu tempo de espera,
O que aguarda eu não sei,
Creio apenas que pondera,
Naquilo que não serei.
.
Vasta sombra que se afasta,
No sentido de ocultar,
Nessa planície tão vasta,
Aquilo que quer brilhar.
.
Toda espera é letargia,
Que os sentidos conforta,
Mas que apenas prenuncia,
Uma esperança já morta.
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O.T.Velho

FRUSTRAÇÃO

.
Uma velha estrada conduz,
A destino tão incerto
Para aquele que deduz
Que o percurso não é perto.
.
É a distancia que agiganta
A medida em que se crê,
Que o seguir não adianta
E o ficar é sem porquê.
.
Pouca coisa se assemelha
Á incerteza destinada,
A ficar na estrada velha
Ou ser velha sem estrada.
.
O.T.Velho

POEMA

.
E era o meu verso sozinho,
Emudecido, calado,
Surgindo devagarzinho,
Como um menino assustado.
.
E eu de mim que o via,
Nas dobras do alvorecer,
Surpreendido, sorria,
Só não o sabia escrever.
.
E um sopro longo e leve,
Tão derradeiro e infinito,
Conclui: o menino se escreve,
É poema que vem escrito.
.
O.T.Velho

CONSTRANGIMENTO

.
O passado me reconhece,
Como um algo que perdeu,
É uma coisa que parece,
Em si mesma sendo eu.

E a minha pluralidade,
A si mesma se constrange,
Como a suposta metade,
Desta coisa que ela abrange.

E por contê-la de perto,
O que sinto é uma tristeza,
Disso tudo que é incerto,
Não sou livre, ela é presa.

O.T.Velho

CASA VAZIA

.
Na casa vazia, um galope,
De coisas tangidas, de nada,
Que entorpecem e entope,
Minha manhã começada.
.
Neste atropelo se gruda,
O meu olhar que repara,
Que a confissão se faz muda,
Quando a gente a declara.
.
E nessa fagulha se acende,
Os restos de uma prece,
Que ao meu silêncio se rende,
E nada mais acontece.
.
O.T.Velho

SANGRA-ME

.
Quando estou em não é nada,
Vejo sangra-me o lampejo,
De uma névoa estagnada,
Deste nada ao que não vejo.

Quando vou a não sei onde,
E encontro o que não sou,
Algo em mim se corresponde,
A buscá-lo onde não vou.

E só assim sinto-me como,
O nada raro que me trai,
Feito bagaço de um gomo,
Deste sangue que não cai.

O.T.Velho

OMISSÃO

.
Tudo que nos parece bom,
É algo que nunca fica,
É um sobressalto no tom,
O simples que se complica.
.
É a distancia que se alinha,
Estabelecida quando eu,
Fiz da coisa sendo minha,
A minha que se perdeu.
.
E se perder é uma premissa,
Pra ganhar de outro modo,
Esta idéia tão omissa,
Pensará se eu concordo.
.
O.T.Velho

ACORDEON

.
No acordeon que calou-se,
Uma nota se perdeu...
Era música tão doce,
Pois ninguém a escreveu.

Na lembrança, vem e vai,
De um fole enrijecido,
A melodia assim se trai,
E o som não é ouvido.

Fica apenas um lampejo,
Neste ritmo sem som,
Radicado num desejo,
Que seria acordeon.

O.T.Velho

CRASSO

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Arranca um verso da boca,
E na frase que faz o verso,
Ponha a palavra mais louca,
Na linha deste universo.
.
Não diga somente aquilo,
Que pesa em teu coração,
Todo segredo ou sigilo,
Te escapará pela mão.
.
E o tempo sempre conspira,
Em tudo que nos invade,
Pois só existe a mentira,
Que nós chamamos verdade.
.
O.T.Velho

AÇOITE

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O açoite que corta calado,
Os rumos negros da noite,
É corpo viril machucado,
Irmanado ao mesmo açoite.
.
Fere o peito rude e bronco,
Espantado, negro e esquivo,
É um nervo sangrando no tronco,
É um tronco agora mais vivo.
.
Já por fim a mente se rende,
Na figura confusa e cansada,
Mas se assim o corpo aprende,
Esta alma nunca é domada.
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O.T.Velho

RASCUNHO

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Minha poesia inacabada,
Que o tempo não rimou,
Nunca pode ser cantada,
Já não pode ser rimada,
E não pode ser quem sou.
.
Minha poesia sem papel,
Sem caneta nada enfim,
Foi a coisa mais fiel,
Uma estrela no meu céu,
Uma parte dele em mim.
.
Mas nada disso eu diria,
Se pudesse descrever,
Que em mim a poesia,
A si mesma se escrevia,
Eu precisei apenas ler.
.
O.T.Velho

RABISCOS

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Ouve a solidão, quando fala,
É como pedra em calabouço,
E em seu barulho propala,
O som igual que não ouço.
.
O que se ouve é somente,
Este silêncio de espuma,
Do que prendemos na gente,
Por não sentir coisa alguma.
.
E esta angústia com certeza,
Ocorre só mesmo enfim,
Em um momento de fraqueza,
Que é tão forte só em mim.
.
O.T.Velho

BAMBOLÊ

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Farei uma casa de veludo,
Com telhado de chocolate,
As paredes serão de tudo,
Terei um criado mudo
E um lustre verde abacate.
.
A mobília será de papel,
E no teto de cartolina,
Vou desenhar outro céu,
Destes que saem do pincel,
De criança pequenina.
.
A casa não será só minha,
Pois criança quando sonha,
Ela nunca está sozinha,
Ela é feito uma estrelinha,
Desenhada sobre a fronha.
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O.T.Velho

AAMINAH

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Eu vi alguém com a tua cara,
Então lembrei-me de uma flor,
De uma flor completa e rara,
A qual chamamos de amor.
.
Não eras tu... mas entendi...
Estás em tudo o que eu vejo
Em cada coisa que não vi,
E em todas formas de desejo.
.
Mas se uma outra pode ter
A semelhança do olhar-te,
Então só sei te conhecer
Pois és o todo em toda parte.
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O.T.Velho

OPOSTOS

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Vês a página de um rosto
Que estampei em minha cara,
Só esconde meu desgosto
Como vinho em água clara.
.
E este semblante declarado
Escondido em minha tês,
Não se mostra, é guardado
Muito além do que tu vês.
.
E saberás desta maneira
Só daquilo que não fui,
Pois sou água de torneira
Que se esvai e não dilui.
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O.T.Velho

terça-feira, 2 de junho de 2009

NO JARDIM DOS TORQUATO VELHO

terça-feira, 2 de junho de 2009
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A paisagem que eu não vi
De uma maneira curiosa,
É, dentre tudo que ouvi,
A mais singela e formosa.
.
Sempre terei eu pela frente
O medo estranho de que fui
uma paisagem indiferente
E que sentido não possui.
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Não vale a pena, assim me digo,
Não vale a pena recordar,
Toda lembrança é nó antigo
Que tanto insiste em te amarrar.
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O.T.Velho

segunda-feira, 1 de junho de 2009

NA VELHA CASA DOS ALCEBÍADES

segunda-feira, 1 de junho de 2009
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O meu silêncio, tão constante
E amiudemente inexplicavel
Se torna em mim desconcertante
E, entre tudo, tão palpável.
.
E nestas horas de ocaso,
Que torna tudo um precipício,
Ouço-o a dizer-me, por acaso,
Sou teu caminho mais dificil.
.
E vou seguindo a mesma trilha,
Muito pr'além da multidão,
Onde o sol de certo brilha
Mas para mim, às vezes, não.
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O.T.Velho

QUANDO O REGIMENTO PASSA

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Poeta é aquele que se vê
Em cada frase que escreve,
E se espanta quando lê
Seu infinito curto e breve.
.
Pois quem escreve se adianta
E sabe bem o que é sentir,
Traz a mentira na garganta
Porém não mente ao mentir.
.
Se pouco fala do que sente
Sente que nada lhe completa,
E, tão amiude e raramente
Sabe se é louco ou poeta.
.
E assim na dor nunca doida
Há este bem que satisfaz,
O complemento que a vida
Faz para aquele que a faz.
.
Mas um poeta... Que dizer!
Se todo mundo tem um pouco,
Da eterna dor de escrever
Para provar que não é louco.
.
O.T.Velho

A AVE SECRETA

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Existe em mim um lugar
Onde vou tão raramente,
Que mal o posso achar
E nem fazer-me presente.
.
Lá não chove, toda a vez,
Que o chover se ameaça,
Penso nele, pra talvez,
Entender que a chuva passa..
.
E este lugar tão proibido
Segredado ponta a ponta,
Vive em mim tão escondido
Num eterno faz de conta.
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O.T.Velho

A BULA DE THOMAZ

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Queria sentir outro sentir
Ou a idéia que me fosse
muito além dela existir
Ou do modo que tornou-se
.
E neste eterno sem sentido
Somente algo se ressalta
É o dualismo pretendido
Onde tudo me faz falta
.
Assim mesmo ainda queria
O olhar-me face a face
Pra entender o que eu seria
Quando tudo me faltasse.
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O.T.Velho

AS LADEIRAS DE QUIXAD'ÁGUA

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Quando segui por mundo afora
Trlhei caminhos e os fiz
Como aquele que se explora
Porque não pode ser feliz.
.
E então a estrada se recua
E a gente vê que não alcança
Pois tem a alma ainda nua,
Nunca passou de uma criança.
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Nada mais somos que a migalha
Que vai da mesa para o pó.
Perdeu de novo uma batalha
Voltou enfim mas esta só.
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O.T.Velho

sexta-feira, 29 de maio de 2009

UM GRITO QUE SE PERDEU

sexta-feira, 29 de maio de 2009
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O hoje por hoje me basta
E o que fiz só por fazer
É feito incêndio, devasta
Queimando sem eu querer.
.
Por hoje é só, já não mais
Farei a coisa que eu deva
Com tantos pontos finais
Impedindo que eu escreva.
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Por hoje é só e não irei
Ser testemunha do nada
Pois nada é só o que farei
Na minha vida quadrada.
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O.T.Velho

OS PORÕES DA CASA DE ENGENHO

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E eu me perdi na escuridão
Naquele ponto frio e baixo
Que todos chamam solidão
E tem as formas de capacho.
.
Tudo se perde, então restou-me
Da mesma forma me perder
Foi quando eu me vi sem nome
Ou só teimava em não o dizer.
.
Mas já faz tempo que assim vi-me
Que penso mesmo seja hilário
Pois muito embora tudo rime,
Ainda me sinto um solitário.
.
O.T.Velho

AULAS DE PORTUGUÊS

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É um dia longo, eu sou talvez
O exemplo crasso desse dia
Que se envolveu na palidez
Onde também me envolveria.
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É um dia longo, um dia longo
Longo demais pra descrever
Feito as regras de um ditongo
Que sempre esqueço de reler.
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É um dia longo, assim me veio
Como um ditongo oral aberto
Com acento grave bem no meio
E de um olhar meio encoberto.
.
O.T.Velho

O ABAT-JOUR DE PORCELANA

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Perdi as formas de universo
(E tudo aquilo que termina)
Tão semelhante e disperso
Como um castelo em ruina.
.
E assim sai de meu contexto
Como pedaço de um escrita
Que se perdeu, deixou o texto
Seguindo a tudo que evita.
.
Vou inventar que tudo entendo
Sei dessas formas e o que são
Pois só assim me compreendo
Dentro de tanta explicação.
.
O.T.Velho

PEQUENA VALSA, UM DITONGO

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Estudo as formas de relevo
Recrio acordes que ouvi,
Mas no momento que os descrevo
Vejo somente os que perdi.
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E a meia luz fraca, serena,
Chamou meu corpo pra dançar,
Mas era a valsa tão pequena
Que terminou ao começar.
.
A luz se apaga e breves passos
Ainda conduzem minha mente,
Numa cadência, abrir os braços,
Pra fazer tudo novamente.
.
O.T.Velho

SÓ, PELAS RUAS DO MERCADO

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Não sei o quanto me revelo
naquilo que nunca respondo
Sei que apenas: crio um elo,
Onde me acho e me escondo.
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Assim não perco a sensatez
De ver aos que não a têm
Fungindo em sua lucidez
Justificando o ser ninguém.
.
Assim, perdido no meu rumo,
Não sei se vou me revelar
Porque senão eu me acostumo
E temo não saber voltar.
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O.T.Velho

quinta-feira, 28 de maio de 2009

ESTRELAS DE ANDARAÍ

quinta-feira, 28 de maio de 2009
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Um céu de estrelas parece
Levar a mundos distantes
Ao ermo que nos conhece
Pelo que fôramos antes.
.
E quando anoitece, creio,
Que tudo nos olha e vê
Como uma delas que veio
Guardar àquele que a crê.
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Assim não creio que importa
Um outro modo de vê-las
Pois meu silencio comporta
Um céu forrado de estrelas.
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O.T.Velho

AS HORAS FEREM OS OUVIDOS DO SILÊNCIO

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Tudo que penso conspira
contra meu ânimo de ser
O alheio a esta mentira
Que tenta me convencer.
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Pouco a dizer, a verdade,
Provém da mesma raiz
Surgida numa igualdade
Ferindo a boca que a diz.
.
Porém me esforço mas temo
Que não consiga lograr
Mesmo em esforço extremo
Fazer a verdade falar.
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O.T.Velho

terça-feira, 26 de maio de 2009

LA NOCHE DE AYER

terça-feira, 26 de maio de 2009
Foi Ontem à noite, me lembro,
tudo quedou-se estranhamente
Em fortes golpes, cada mebro,
Pedia paz à minha mente

Tudo era igual ao não suposto
Uma mentira inventada
Escrita apenas no meu rosto
Fio por fio remendada.

Foi ontem à noite que me vi
Sentir o corpo desmembrar
Na impressão de que menti
Só pra, um dia, me lembrar

O.T.Velho

MANHÂS DE GUAYAQUIL

Meu saudosismo imaginário,
Que ora existe e ora não,
É como um medo solitário
E torna tudo solidão.

O céu de agosto tem a cor,
Que amiúde, de repente,
Faz-me pensar na intensa dor
Da solidão que há na gente.

Nada é tão raro, inconstante,
Que seja sempre imutavel,
Pois a quietude do instante
Parece ser interminável.

O.T.Velho

VENDAVAL NO VENTO NORTE

O mar me conta as histórias
De uma nau que se perdeu,
Ficou perdida nas memórias,
Ficou perdida como eu.

Trazia ela em seu cortejo
O deus dará, a sorte cega,
Pois navegava num desejo
De quem não vê onde navega.

E o mar me disse que afinal
Fomos iguais na semelhança
Ele perdeu a sua nau
Quando perdi minha esperança.

O.T.Velho

domingo, 24 de maio de 2009

TROÇOS DE UM DIA AMARGO

domingo, 24 de maio de 2009
Perco-me todo em caminhos
Que sempre viram passatempo,
Escondem medos, torvelinhos,
Coisa guardada há muio tempo.

Assim em mim cada momento
Recorda apenas o que sou:
Um velho mundo cismarento,
Rasgo de um nada que passou.

Volto pro longe... não consigo
De nenhum modo me expressar
Cada palavra do que digo
É nada além deu me calar.

O.T.Velho

sábado, 23 de maio de 2009

ARLEQUIM VERMELHO

sábado, 23 de maio de 2009
Eu obedeço ao mandamento
Que faz o homem ser feliz,
Erguer a casa sobre o vento,
Nessas manhãs de chafariz.

Voar às vezes numa estrela,
E ao mais leve desencanto,
Sair às noites pra revê-la,
E nunca mais deixá-la tanto.

E de assim ter uma meta,
Só uma meta e mais nenhuma
Que a manhã é incompleta
Quando a gente se acostuma.

O.T.Velho

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O BOTICÁRIO DA RUA XV

quarta-feira, 13 de maio de 2009
Alguém me disse, mas não sei,
Pois esqueci-me de ouvir...
Era uma voz e então pensei
Que tudo era eu repetir.

Era um silêncio, uma nota,
Pequena pausa assemelhada
À solidão que se esgota
Quando a gente ouve nada.

E foi assim, somente assim,
Que percebi alguem dizer
Da solidão qua havia em mim
Só eu não pude perceber.

O.T.Velho

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O ARCO IRIS DA VILA DE MARCONDES

segunda-feira, 11 de maio de 2009
O vento que vai inventa,
Na sua forma de invenção,
Algo que não se experimenta,
Coisas que não existirão.

Toca-me a pele, arredio,
Rola nos ares sem se ver,
Porque sou breve como um fio
E ele é vento sem saber

Cai-me a noite, minha pele,
Parece coisa não tocada,
E ao não ter nada que a revele
Sinto-a como se inventada

O.T.Velho

O COLAR DE PEDRAS DE JUANITA

Por esta noite sim, não mais
Diga-me coisas do ouvir
Coisas que não serão jamais
Pra eu ficar e não partir

Por esta noite sim, somente
Fale dos sonhos que serão
No meu ficar intermitente,
Tudo que fiz sem ter razão

Só nesta noite sim, talvez
Dá-me tua mão já estendida
Com o vazio que se fez
Do gosto amargo da partida

O.T.Velho

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

MIRAGEM DE VEGA

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
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Este mundo de estilhaços,
De alma pontiaguda,
Se encolhe nos meus braços
Como que pedindo ajuda.
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Vem o manto e o encobre
Numa tal similitude,
Que me sinto apenas pobre
E não sei em que ajude.
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Varre o corpo pro deserto
Qua a alma ja varrida,
Encobriu-se tão de perto
Que perdeu-se ou é perdida.
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O.T.Velho

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

MONODIÁLOGO

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
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Às vezes penso, sei lá
em ser outro, de repente,
tão igual ao que sou já
E assim mesmo diferente.
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e nesta mesma diferença
Me fará não ser quem sou,
Eu serei o que me pensa
Mas não do modo que pensou.
.
Talvez assim dessemelhante
Contraditório, louco, enfim,
Irei crer-me o bastante
E serei outro então assim.
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O.T.Velho

...UMA VEZ

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Nosso jeito é uma mistura
É mescla de tanta cor
que nem parece pintura
É mais que isso, é amor.
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é um jeito tresloucado
um arremedo estranho
entre o amor e o amado
Sem conjectura ou tamanho
.
E se amar-te é como saber
De coisas sempre iguais
Pareço sempre reler
Somente pra saber mais.
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O.T.Velho

VASO DE PORCELANA

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Minhas mãos brancas de argila
Nunca puderam entender,
Porque a noite tão tranquila
Tem rostos pra esconder.
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Meus pés descalços, meus chinelos
falam de tudo que não sei,
Falam que os becos não são belos
Porque assim eu os tornei.
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Só sei dos sonhos que eu não tive
Na cor de argila em minha pele,
E se a noite é noite no que vive
Talvez um dia me revele.
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O.T.Velho

INTERLÚDIO AFRICANO

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Há uma certa indecisão
Em tudo que sei ou quero,
Não por coisas que serão
Ou por outras que espero.
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Nem o tempo não me dirá
Nada quero que me contem,
Pois obviamente será
Aquilo que já fui ontem.
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Então não sei se indeciso
É um termo que me explica,
pois já sei do que preciso
Só não sei onde ele fica.
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O.T.Velho

RIBEIRINHO DAS VOLTAS

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O rio rumina e a vazante
Faz da corrente rompida,
Uma transparencia cortante
Que tira a água da vida.
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E num caudal que flameja
O veio grita e derrama,
Na foz que inunda e despeja
Feito alguém que nos chama.
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E o ribeirão permanece
Ouvindo o rio dizer,
Palavra ouvida se esquece
Falar pra dentro é saber.
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O.T.Velho

JARROS E MÁSCARAS

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Nesta página de um rosto
Que estampei em minha cara,
Se esconde o meu oposto
Como vinho em água clara.
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E o semblante declarado
Escondido em minha tês,
O que mostra é guardado
Muito além do que tu vês.
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Saberás de outra maneira
Só daquilo que não fui,
Feito água de torneira
Que se esvai e não dilui.
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O.T.Velho

MOLDURA DE CERA

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Meu antagonismo se repete
de um modo tão reprimido,
Que faz crer que eu me complete
e não sou tão repetido.
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E não raro pelas ruas
Onde vou, meu descaminho,
De uma sombra forma duas
E não sou tão mais sozinho.
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Só palavras, nenhum gesto
Só rabiscos num bilhete,
Sou de mim o imanifesto
Da poeira de um tapete.
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O.T.Velho

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

FLERTE

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
O seu amor me acusou
de um jeito tão normal
de alguém que nunca amou,
pelo menos não igual.

E nessa coisa engraçada
que a gente não quer ver
por amar de forma errada
ou fugindo sem querer.

Mas a culpa se confessa
e assim se compreende
Que amor só se expressa
A alguem quando se rende

O.T.Velho
 
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