sexta-feira, 31 de julho de 2009

MINHAS PRECATÓRIAS

sexta-feira, 31 de julho de 2009
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Eu não sou o que pareço,
Sou o lugar onde me ponho
Mas eu dele só conheço
Que faz parte de um sonho.

A outra parte em mim é algo
Que suporta minha crença
Tem trejeitos de um fidalgo
Nada diz, não dorme ou pensa.
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Uma tem em seus enganos
Os que a outra cometeu
Pois fizeram os mesmos planos
Pra não serem como eu.
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O.T.Velho

quinta-feira, 30 de julho de 2009

OLHOS DA COR DO MAR

quinta-feira, 30 de julho de 2009
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Não tira teus olhos dos meus
Pois desta mescla esparsa
Resulta em ver-me nos teus
O que nos meus se disfarça.
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Pois um olhar tanto exclama
E quando fala de si
É como o brilho ou a chama
Do meu olhar visto em ti.
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É assim que os olhos se vêem
Numa intenção de dizer
Que toda a visão que contém
Vem de um outro os ver.
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O.T.Velho

segunda-feira, 27 de julho de 2009

REENTRÂNCIAS

segunda-feira, 27 de julho de 2009
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A vida por meus olhos passa
Sem que eu perceba exatamente;
Sou a vidraça que se embaça
E a nada vê tão claramente.
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E ainda assim não sei notá-la
Ou distinguir a intenção
Da mesma imagem que se cala
Quando me escapa da visão.
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Somente sei reconhecê-la
Até onde posso arguir;
Se o céu existe numa estrela
Eu fiz-me dela ao existir.
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O.T.Velho

sábado, 25 de julho de 2009

NA ESTRADA PRA CURIAPEBA

sábado, 25 de julho de 2009
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O pneu velho na estrada
que sabe ele de ser?
Não teve a vida começada,
E bem pouco a pode ter.
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Nada foi do que não acha,
Se perdeu no segmento,
Com seu corpo de borracha
Na estrada em movimento.
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Se mais nada lhe ocorreu,
Não importa ter morrido,
Foi somente um pneu,
No bem pouco a ser sabido.
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O.T.Velho

quinta-feira, 23 de julho de 2009

BERGANTIM DE PORCELANA E COBRE

quinta-feira, 23 de julho de 2009
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O amargo doce de um beijo
Tem um aroma de flor,
Brotada em cada desejo,
Cuja beleza é não supor.
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Tudo é segredo... uma ave,
No improviso de um passo,
Dança um ballet, tão suave,
No palco imenso do espaço.
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A mão que acena num verso,
Onde não há o que dizer,
Faz doce amargo o universo
Pra cada beijo nascer.
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O.T.Velho

quarta-feira, 22 de julho de 2009

AS TARDES DA RUA XV

quarta-feira, 22 de julho de 2009
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Eu não conheço um dia calmo,
Tudo que sei ou que conheço,
Fica à distância de um palmo
Da simetria que obedeço.
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Também não tenho a inspiração
Que justifique o mero ato
De me enredar na produção
Deste rabisco ou relato.
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Pois nada penso que entabule,
Na idéia tola e associada,
Algum escrito que se anule
Na dissertação mal começada.
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O.T.Velho

BIOMBOS E MARIONETES

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O tempo é o eterno paralelo
Na hora perdida que se trunca,
E é cada orifício deste elo
Que leva as horas para o nunca.
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Jamais devolve, não há volta,
É como a chuva de granizo
Que fere as tardes, se revolta
Só pra dizer que foi preciso.
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Então me ocorre o pensamento
Porque não para de chover?
Pois se o granizo fere o vento
O tempo agora é pra esquecer.
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O.T.Velho

sexta-feira, 17 de julho de 2009

COURAÇA DE PAPEL MOLHADO

sexta-feira, 17 de julho de 2009
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Deste meu tempo de cristais
Só perduraram os fragmentos,
E a sensação sem ideais
Em um convés de desalentos.
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Eu já fui de tudo, já fui porta,
Fui um rabisco numa brecha
Alguma ausência que conforta
A cada porta que se fecha.
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Já fui a estrada em rotatória
Para assistir então passar,
A estranha massa incorpórea,
Que a tudo fez fragmentar.
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O.T.Velho

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O AÇOUGUEIRO DA RUA XV

quinta-feira, 16 de julho de 2009
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Não me importa que me tomem,
Por um sujeito tão vulgar,
Igual ao pasto que os bois comem,
A cada vez que vão pastar.
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O que me importa é sim conter,
Este lugar que ninguém foi...
Ser mesmo pasto e então crescer,
Numa metade deste boi.
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E que assim me fique o inaudito,
D'alguma pobre e velha rês,
Com as diferenças que acredito,
Mas tão igual a mim, talvez.
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O.T.Velho

segunda-feira, 13 de julho de 2009

DESAFORISMO

segunda-feira, 13 de julho de 2009
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Toda canção é como a folha,
Um fragmento que se solta,
Caindo leve como bolha,
Por um instante e nunca volta.
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E uma canção quando ouvida.
Ou quando a gente dela sabe.
Cria uma imagem repetida,
E assim repete até que acabe.
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Eu já não sei como se canta
Pois todas formas de canção
Ficam em mim só na garganta
E, desse jeito, morrem então.
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O.T.Velho

A LOJA DE DOCES DA RUA XV

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É tudo um engano... Pisa leve
Pois toda coisa é dita assim
O mal de alguma é ser tão breve
Para em outra não ter fim.
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É um passo falso, certamente,
É chão aberto que se pisa
Nenhum engano dói na gente
Tampouco dói em quem precisa.
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Então assim, nesta cadência,
Somos forçados a errar,
Esta é, talvez, a maior ciência,
Pois o viver é se enganar.
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O.T.Velho

NO CALÇADÃO DA RUA XV

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Este meu jeito quase humano
Às vezes chega a convencer
Que o contracenso do engano
É tão somente parecer.
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Não que eu prometa, nem refaça,
Ou justifique a coisa dita
Mas por fingir a mesma graça
Quando alguém não acredita.
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Então sou sempre enganado
Por esta quase humanidade
Que sempre faz do gesto errado
Uma discreta piedade.
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O.T.Velho

A PONTE RECLINADA

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O espelho é um fragmento
Que fugiu à explicação
De meu torpe pensamento
Que não viu sua razão.
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O que mostra sua imagem
Não é o tanto que revela
Mas somente uma linguagem
Que no vidro se congela.
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E nas formas que ele insiste
De mostrar o que não vê,
Outra assim igual consiste
Nestes versos e quem os lê.
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O.T.Velho

LAS CALLES DE MONTEVIDEU

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...então segui pro rumo norte
E por estreitos que não vi
Que toda estrada leva à morte
E eu não sei porque segui.
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E neste estranho paradeiro
Cujo destino se nos furta
Não me refiz, segui inteiro
Tornando a vida tola e curta.
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São só presságios, o princípio
De uma idéia que não rima
Já não tolera o particípio,
E fica no verso onde termina.
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O.T.Velho

NO ESTREITO DA RUA XV

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Dá-me tua mão através do dia
O dia é somente uma passagem
Na rua estreita e não deveria
Reaparecer na outra margem.
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Dá-me as mãos invente alegria,
Pois todo o resto é só bobagem
E a rua morta, então vazia,
Ressurgirá com outra imagem.
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Dá-me as mãos, a aragem fria,
Já não parece ser aragem
Mas frios ventos, covardia
Dá-me as mãos e então coragem.
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O.T.Velho

ESTUDI DELLA RICORDANZA

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E toda recordação só é isso,
Uma fuga ou simplesmente,
Um ponto fraco, movediço,
Para alguém lembrar da gente
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Assim eu tento não lembrar-me,
Porque um outro esquecerá,
E tão facilmente me desarme,
E à outra coisa passará.
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Mas muito embora eu me afaste,
A recordação sempre me segue,
Por confiar que eu não a gaste,
E para sempre a carregue.
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O.T.Velho

CIRANDA EM XEQUE

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É só um tabuleiro de xadrez
O modo como eu me vejo
Pois cada peça perde a vez
Pra dar origem a um desejo.
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É só um jogo... é só um jogo
Que nunca é facil de parar
É a devoção de amor ao fogo
É a abstenção de não jogar.
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É uma ciranda que culmina
No ponto alto em que ficou
A descontinuidade que origina
A peça errada que jogou.
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O.T.Velho

ELUCUBRAÇÕES INSÓLITAS

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Releio, nas folhas do caderno,
Correspondências que mantive,
Nas incertezas do inverno,
Com os brancos lagos onde estive.
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Falo das noites, madrugadas
De algo em mim que emudeceu
Dessas notícias esperadas
Pelo que nunca aconteceu.
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Das brancas nuvens, o arrepio
Que nos provoca o temporal
Que basta ao inverno já ser frio
Nunca é preciso ser igual.
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Falo também do quão difícil
Torna-se ao homem entender
Que toda vida é como um vicio
E da qual é fácil se embeber.
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E falo também, a cada folha,
Do que não pude suportar
Pois toda vida é uma escolha
E só o caderno pode errar.
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O.T.Velho

À BEIRA DA ORLA

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Da noite me basta o lampejo,
A antevisão dos abrolhos,
Pra que eu sinta um despejo
Correr-me no rio dos olhos.
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Sargaços, mangues e lodos
Foram o que vi comumente,
Que acostumei-me com todos,
E já nem sou diferente.
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Se uma idéia sempre nos trai
Pode-se em outra rever,
Que o mais distante que vai
É à véspera de retroceder.
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O.T.Velho

NAS ESCADARIAS DE ANDALUZ

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A referência ao intangível
Que a minha mente reproduz
Só há de ser perceptível
Nas escadarias de andaluz.
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É como o sol dourado e fresco
Ou a agonia louca e cega
Que num arroubo quixotesco
Fere aquele que a carrega.
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E tudo segue uma tangência
Como um comboio que discorre
Pois atingiu esta freqüência
Da coisa viva que não morre.
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O.T.Velho

A RAIZ DO CUBO

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O tempo de tudo é tão lento
Só dura o tempo que faz
Um breve instante, um momento,
Do que ficou para trás.
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São voltas,vindas e idas
São fragmentos de cenas
Imberbes imagens surgidas
Por um minuto, apenas.
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Já não possuímos os sábios
E o que se ouve é a tolice
É o movimento em que os lábios
Repete o que nunca disse.
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O.T.Velho

domingo, 12 de julho de 2009

IMAGENS SAZIONAIS

domingo, 12 de julho de 2009
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Escute a voz na tempestade,
O temporal que não desaba,
É lá que existe a verdade;
A vida surge quando acaba.
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E neste eterno movimento
De tudo prestes a acabar-se
Há de surgir um pensamento:
Nada passou de um disfarce.
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Assim escute os temporais ,
Que o vento leve não empurra,
E faz de coisas tão banais,
Esta verdade que sussurra.
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O.T.Velho

DECLARAÇÃO DO ALVORECER

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O meu olhar roubado ao teu
não é somente um olhar
Mas um rubor que se escondeu
Entre a manhã, aurora e mar..
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Pois as manhãs derramam óleos
Sobre a varanda de tecidos
Da cor perdida de meus olhos
Em teus olhares escondidos.
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É natural que eu não te veja
Apenas sinta quando vens
Que és a manhã e o sol te beija
Não tenho nada e tu me tens.
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O.T.Velho

sexta-feira, 10 de julho de 2009

A HERANÇA DE PORFÍRIO ALCEBÍADES

sexta-feira, 10 de julho de 2009
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Não foram os dias de inverno
Que trouxeram tanto frio
Inventaram o dia eterno
Criaram sombras, encobriu-o.
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E não foi o frio rigoroso
Que apagou todo o calor
Deixou um gosto licoroso
E nossa sede sem sabor.
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Não foi nada, não foi nada
Que aumentou os dissabores
Foi somente a coisa errada
E o inverno deu-lhe as cores.
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O.T.Velho

quinta-feira, 9 de julho de 2009

UM DIA SEM GRAÇA

quinta-feira, 9 de julho de 2009
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Na calçada molhada se repete
A imagem fria que desloca
O som confuso dum trompete
Que a gente ouve e ninguém toca.
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Pois nenhum ouvido o irá notar
Ou distinguir como canção
O que sentiu de ouvir tocar
Ou se ele foi tocado ou não.
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Na calçada fria e tão molhada
Qualquer palavra tem o som
De uma cantiga não tocada
Ou que afinal perdeu o tom.
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O.T.Velho

QUADRO I

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I - FIAMBRES E LICORES
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Os meus dias são caminhos
São estradas sem lugar
São pequenos pedacinhos
Que haverei de remendar.
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E este tempo que eu terei,
Como sobra remendada,
Do que em mim fragmentei,
Pra seguir em outra estrada.
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Os meus dias são roteiros
De uma peça que ficou
No papel, entre os tinteiros,
Deste livro que não sou.
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II - DESDE MUITO
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As horas não passam, parece
Que o tempo se emudeceu
Já quase nada acontece
Só coisa alguma e eu.
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E eu, como sempre, perdido
Revejo igual semelhança
Num tempo em mim esquecido
Guardado só na lembrança.
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E nos refrões da cantiga
Tudo que busco é entender
Mas temo que não consiga
Porque há muito a esquecer.
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III - AMOR, ESTRANHO MODO
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É luz, é fogo o que eu sinto,
Uma canção, um trocadilho,
Um sentimento indistinto
Fração de luz, quase sem brilho.
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É redenção, é dor, paixão
Uma agonia que devora,
Corrói o peito, o coração,
Fica pra sempre e nem demora.
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É uma paz que se consome
Na alegria de ser triste,
Pela razão que não tem nome
E apenas sei porque existe.
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F.T.Oliveira

terça-feira, 7 de julho de 2009

NÃO FOI NADA...

terça-feira, 7 de julho de 2009
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Foi só meu sonho acordado
Que pela noite perdida
Tentava ser relembrado
De acordar-me em seguida.
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Foi só o meu rumo diverso
De um conteúdo qualquer
Que fez meu sonho disperso
Seguir em rumo qualquer.
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Foi só um pouco ou o nada
Do que eu vá presumir
E que fez a noite acordada
Não mais deixar-me dormir.
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O.T.Velho

sexta-feira, 3 de julho de 2009

UM GRITO NA JANELA

sexta-feira, 3 de julho de 2009
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...a minha poesia já não grita
Nem tem a voz que dilacera
Ela é como as aves e se agita
No breve tempo de uma espera.
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É como o vento, frio e leve,
É como a neblina que percorre
Na palidez de um texto breve
A sincronia do que morre.
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E é como a dor que se desata
Numa verdade presumida
Porque não dói e sim retrata
A não existência da ferida.
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O.T.Velho

quinta-feira, 2 de julho de 2009

CARVOARIA

quinta-feira, 2 de julho de 2009
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...e remarei contra marés,
Irei seguir pra além do mar,
Nos arredores sem convés
Numa distância sem lugar.
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Eu vou seguir até que aviste
O outro lado do horizonte
Porque no mar somente existe
A travessia e uma ponte.
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E vou remar no rumo gasto
Nas últimas paginas da história
Deste poema que arrasto
Pra o infinito da memória.
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O.T.Velho
 
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