sexta-feira, 29 de maio de 2009

UM GRITO QUE SE PERDEU

sexta-feira, 29 de maio de 2009
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O hoje por hoje me basta
E o que fiz só por fazer
É feito incêndio, devasta
Queimando sem eu querer.
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Por hoje é só, já não mais
Farei a coisa que eu deva
Com tantos pontos finais
Impedindo que eu escreva.
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Por hoje é só e não irei
Ser testemunha do nada
Pois nada é só o que farei
Na minha vida quadrada.
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O.T.Velho

OS PORÕES DA CASA DE ENGENHO

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E eu me perdi na escuridão
Naquele ponto frio e baixo
Que todos chamam solidão
E tem as formas de capacho.
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Tudo se perde, então restou-me
Da mesma forma me perder
Foi quando eu me vi sem nome
Ou só teimava em não o dizer.
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Mas já faz tempo que assim vi-me
Que penso mesmo seja hilário
Pois muito embora tudo rime,
Ainda me sinto um solitário.
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O.T.Velho

AULAS DE PORTUGUÊS

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É um dia longo, eu sou talvez
O exemplo crasso desse dia
Que se envolveu na palidez
Onde também me envolveria.
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É um dia longo, um dia longo
Longo demais pra descrever
Feito as regras de um ditongo
Que sempre esqueço de reler.
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É um dia longo, assim me veio
Como um ditongo oral aberto
Com acento grave bem no meio
E de um olhar meio encoberto.
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O.T.Velho

O ABAT-JOUR DE PORCELANA

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Perdi as formas de universo
(E tudo aquilo que termina)
Tão semelhante e disperso
Como um castelo em ruina.
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E assim sai de meu contexto
Como pedaço de um escrita
Que se perdeu, deixou o texto
Seguindo a tudo que evita.
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Vou inventar que tudo entendo
Sei dessas formas e o que são
Pois só assim me compreendo
Dentro de tanta explicação.
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O.T.Velho

PEQUENA VALSA, UM DITONGO

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Estudo as formas de relevo
Recrio acordes que ouvi,
Mas no momento que os descrevo
Vejo somente os que perdi.
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E a meia luz fraca, serena,
Chamou meu corpo pra dançar,
Mas era a valsa tão pequena
Que terminou ao começar.
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A luz se apaga e breves passos
Ainda conduzem minha mente,
Numa cadência, abrir os braços,
Pra fazer tudo novamente.
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O.T.Velho

SÓ, PELAS RUAS DO MERCADO

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Não sei o quanto me revelo
naquilo que nunca respondo
Sei que apenas: crio um elo,
Onde me acho e me escondo.
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Assim não perco a sensatez
De ver aos que não a têm
Fungindo em sua lucidez
Justificando o ser ninguém.
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Assim, perdido no meu rumo,
Não sei se vou me revelar
Porque senão eu me acostumo
E temo não saber voltar.
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O.T.Velho

quinta-feira, 28 de maio de 2009

ESTRELAS DE ANDARAÍ

quinta-feira, 28 de maio de 2009
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Um céu de estrelas parece
Levar a mundos distantes
Ao ermo que nos conhece
Pelo que fôramos antes.
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E quando anoitece, creio,
Que tudo nos olha e vê
Como uma delas que veio
Guardar àquele que a crê.
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Assim não creio que importa
Um outro modo de vê-las
Pois meu silencio comporta
Um céu forrado de estrelas.
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O.T.Velho

AS HORAS FEREM OS OUVIDOS DO SILÊNCIO

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Tudo que penso conspira
contra meu ânimo de ser
O alheio a esta mentira
Que tenta me convencer.
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Pouco a dizer, a verdade,
Provém da mesma raiz
Surgida numa igualdade
Ferindo a boca que a diz.
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Porém me esforço mas temo
Que não consiga lograr
Mesmo em esforço extremo
Fazer a verdade falar.
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O.T.Velho

terça-feira, 26 de maio de 2009

LA NOCHE DE AYER

terça-feira, 26 de maio de 2009
Foi Ontem à noite, me lembro,
tudo quedou-se estranhamente
Em fortes golpes, cada mebro,
Pedia paz à minha mente

Tudo era igual ao não suposto
Uma mentira inventada
Escrita apenas no meu rosto
Fio por fio remendada.

Foi ontem à noite que me vi
Sentir o corpo desmembrar
Na impressão de que menti
Só pra, um dia, me lembrar

O.T.Velho

MANHÂS DE GUAYAQUIL

Meu saudosismo imaginário,
Que ora existe e ora não,
É como um medo solitário
E torna tudo solidão.

O céu de agosto tem a cor,
Que amiúde, de repente,
Faz-me pensar na intensa dor
Da solidão que há na gente.

Nada é tão raro, inconstante,
Que seja sempre imutavel,
Pois a quietude do instante
Parece ser interminável.

O.T.Velho

VENDAVAL NO VENTO NORTE

O mar me conta as histórias
De uma nau que se perdeu,
Ficou perdida nas memórias,
Ficou perdida como eu.

Trazia ela em seu cortejo
O deus dará, a sorte cega,
Pois navegava num desejo
De quem não vê onde navega.

E o mar me disse que afinal
Fomos iguais na semelhança
Ele perdeu a sua nau
Quando perdi minha esperança.

O.T.Velho

domingo, 24 de maio de 2009

TROÇOS DE UM DIA AMARGO

domingo, 24 de maio de 2009
Perco-me todo em caminhos
Que sempre viram passatempo,
Escondem medos, torvelinhos,
Coisa guardada há muio tempo.

Assim em mim cada momento
Recorda apenas o que sou:
Um velho mundo cismarento,
Rasgo de um nada que passou.

Volto pro longe... não consigo
De nenhum modo me expressar
Cada palavra do que digo
É nada além deu me calar.

O.T.Velho

sábado, 23 de maio de 2009

ARLEQUIM VERMELHO

sábado, 23 de maio de 2009
Eu obedeço ao mandamento
Que faz o homem ser feliz,
Erguer a casa sobre o vento,
Nessas manhãs de chafariz.

Voar às vezes numa estrela,
E ao mais leve desencanto,
Sair às noites pra revê-la,
E nunca mais deixá-la tanto.

E de assim ter uma meta,
Só uma meta e mais nenhuma
Que a manhã é incompleta
Quando a gente se acostuma.

O.T.Velho

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O BOTICÁRIO DA RUA XV

quarta-feira, 13 de maio de 2009
Alguém me disse, mas não sei,
Pois esqueci-me de ouvir...
Era uma voz e então pensei
Que tudo era eu repetir.

Era um silêncio, uma nota,
Pequena pausa assemelhada
À solidão que se esgota
Quando a gente ouve nada.

E foi assim, somente assim,
Que percebi alguem dizer
Da solidão qua havia em mim
Só eu não pude perceber.

O.T.Velho

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O ARCO IRIS DA VILA DE MARCONDES

segunda-feira, 11 de maio de 2009
O vento que vai inventa,
Na sua forma de invenção,
Algo que não se experimenta,
Coisas que não existirão.

Toca-me a pele, arredio,
Rola nos ares sem se ver,
Porque sou breve como um fio
E ele é vento sem saber

Cai-me a noite, minha pele,
Parece coisa não tocada,
E ao não ter nada que a revele
Sinto-a como se inventada

O.T.Velho

O COLAR DE PEDRAS DE JUANITA

Por esta noite sim, não mais
Diga-me coisas do ouvir
Coisas que não serão jamais
Pra eu ficar e não partir

Por esta noite sim, somente
Fale dos sonhos que serão
No meu ficar intermitente,
Tudo que fiz sem ter razão

Só nesta noite sim, talvez
Dá-me tua mão já estendida
Com o vazio que se fez
Do gosto amargo da partida

O.T.Velho
 
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