quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

INVERNO

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Na manhã calada, sem sol,
A constante turbulência,
Lembra, de longe, um atol,
Pela simples referência.

Pois de si mesmo exilado,
Num apelo comovente,
O sol se torna calado,
Pra não dizer o que sente.

E assim o dia prossegue,
Em constante letargia,
Da manhã que não consegue,
Ser um nada além de fria.

O.T.Velho

CONTRATUS

Vou ausentar-me por uns dias,
Não estarei para ninguém,
Eu seguirei nas manhãs frias,
Que seguirão em mim também.

E, sem motivos ou alarde,
De mim já nada saberão,
Alguns dirão que fui covarde,
Outros não sei o que dirão.

Mas voltarei um dia, creio,
Após o tanto que se passe,
Nesta vontade, sem receio,
De ser o dia quando nasce.

O.T.Velho

RÚTILO

Não é a simples resposta,
O que procuro entender,
Mas de que está composta,
A minha razão de viver.

Não se fez do mero acaso,
Ou daquilo que acredito,
No conflitante descaso
De ouvir o nada dito.

Mas precede de outra forma,
O entendimento afinal,
Da insuportável norma,.
Que me faz ser tão banal.

O.T.Velho

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

ABISSAL

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Não me acostumo com nada,
E estou cansado de mim,
Fugirei de madrugada,
Para um destino sem fim.

Seguirei tão para longe,
Para deserto tão ermo,
Que dirão que me fiz monge,
Ou morri já muito enfermo.

Mas se a verdade porém,
A uma outra constitui,
Pro lugar que vai além,
Sou o ponto onde já fui.

O.T.Velho

Sou tão leve quanto o sono,
Que se perde de manhã,
Na flor morta do outono,
Sobre o tapete de lã.

Sob meus olhos de vento,
O quieto casaco de linho,
Lembra um rio pardacento,
Criado num pergaminho.

O ser só é um quase nada,
Que a solidão suponha,
Quando está acompanhada,
Da tristeza de quem sonha.

O.T.Velho

HERÁLDICA

Todo sentimento recorda,
A singularidade pretensa,
Do atavismo que transborda,
Naquilo que não se pensa.

É a genealogia condensada,
Numa seqüência volitiva,
E que não é subordinada,
À uma oração substantiva.

E o pensamento apenas tem,
A frágil idéia de existir,
Na chama fraca que mantém,
A vã herança de sentir.

O.T.Velho

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

LUAU

terça-feira, 11 de dezembro de 2007
A lua vaga me vem,
No pensamento inconciso,
Pensá-la não me faz bem,
Mas todavia preciso.

Cegamente ela caminha,
Às beiras do rumo incerto,
Daquilo que adivinha,
Entre o longe e o perto.

E, feito um olho, ela se vê,
Neste amarelo cinzento,
Das linhas tortas que lê,
Dentro do meu pensamento.

O.T.Velho

VENTANIA

Foi à noite, a ventania,
Acordou-me em sobressalto,
Numa intensa gritaria,
Como alguém falando alto.

Nada ouvi do que dizia,
Soube apenas que falava,
Do incerto que havia,
Nessa noite que ventava.

Se pergunta-me contudo,
Pouca coisa vou saber,
Pois o vento fez-me mudo,
Pra ouvi-lo e não dizer.

O.T.Velho

domingo, 9 de dezembro de 2007

DIÁRIO DE BORDO

domingo, 9 de dezembro de 2007
Uma nau que se perdeu,
De um rumo que não tinha,
Encontrou o que sou eu,
Que no mesmo rumo vinha.

Neste encontro preparado,
De um modo casual,
Eu me dei por encontrado,
Nos desvios desta nau.

E se fui ou se fiquei,
Neste mar que o mundo é,
Eu por certo já não sei,
Ou não pude dar-me fé.

O.T.Velho

SEDIMENTAR

O Temporal que ameaça,
Cair sobre a vila,
Na verdade não passa,
De uma chuva tranqüila.

E todo aquele que olha,
Muito além do que vê,
Saberá que não molha,
Pois apenas o crê.

E toda chuva de fato,
Tranqüila ou não,
É somente um retrato,
Do que foi a visão.

O.T.Velho
 
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